Projeto “Cordão de Pássaro Tachã: Renascer em Cores” celebra tradição ancestral no VI Festival Quilombola de Bom Jardim

Projeto financiado pela Lei Aldir Blanc de Santarém será apresentado dia 8 de agosto, às 19h, com nova indumentária e equipamentos adquiridos para fortalecer a manifestação cultural quilombola

8/6/20252 min read

Uma das mais emblemáticas expressões da cultura popular quilombola do Baixo Amazonas vai renascer em cores, sons e ancestralidade no dia 8 de agosto, a partir das 19h, no Centro Comunitário do Quilombo Bom Jardim, com a apresentação do projeto “Cordão de Pássaro Tachã: Renascer em Cores”, na abertura do VI Festival Quilombola de Bom Jardim.

A ação é fruto de projeto aprovado pela Lei Aldir Blanc do município de Santarém e marca um momento simbólico e potente para a comunidade quilombola: o fortalecimento e valorização de uma tradição que carrega mais de 40 anos de história viva.

“O Cordão de Pássaro Tachã é uma memória viva do Quilombo Bom Jardim. É uma manifestação que une música, teatro e dança numa só apresentação. Tudo é feito ao vivo, do canto às falas, sem nada gravado. É o corpo e a voz da comunidade pulsando no palco”, explica Darlenilzo Ribeiro dos Santos, coordenador artístico do projeto.

Inspirado em uma tradição trazida do Quilombo de Saracura, o Cordão de Pássaro foi recriado em Bom Jardim por Raimundo Ribeiro dos Santos, conhecido como Raimundo Tefo. Ainda menino, ele assistia aos ensaios do antigo cordão e decorou tudo: personagens, falas, músicas. Anos depois, ao se mudar para Bom Jardim, Raimundo reconstruiu o cordão de memória, preservando cada detalhe com precisão impressionante.

“Ele sabe tudo de cabeça. Nada foi gravado, nada foi escrito. Nós carregamos esse pássaro com muita dificuldade, por amor à cultura, muitas vezes com recursos próprios. Esse projeto é também um reconhecimento a essa luta”, destaca a proponente do projeto e diretora artística Izabel dos Santos, que é esposa de Raimundo.

A encenação gira em torno do personagem principal: o pássaro Tachã, símbolo da liberdade, da natureza e da resistência. Ao seu redor, desfilam figuras como o caçador, o tuxaua (líder indígena), a camponesa, o curandeiro, o rei, a rainha e o sargento. São 10 personagens principais, cada um com sua função narrativa e coreográfica. O espetáculo é conduzido por vozes e instrumentos ao vivo — um violão, um tambor e muitas emoções.

Com o apoio da Lei Aldir Blanc, o grupo pôde confeccionar nova indumentária e adquirir microfones de cabeça (headsets), melhorando a qualidade das apresentações e permitindo que os personagens se expressem com mais clareza diante do público.

“Essa conquista é muito significativa. Agora os personagens podem ser ouvidos com nitidez. As novas roupas também trazem mais cor e força para a cena. É, literalmente, um renascimento em cores”, afirma o produtor Anderson Luís Santos de Sousa.

A expectativa é que a apresentação emocione o público e desperte o orgulho da comunidade em manter viva uma herança cultural ancestral que, por décadas, resistiu ao esquecimento.

“O Cordão de Pássaro não é só arte, é história, é identidade. Ver crianças, jovens e idosos participando disso é um sinal de que nossa cultura está viva e continua florescendo”, afirma a assistente de produção Bruna Marcião.